sábado, 19 de abril de 2008

A tempestade e as gaivotas




Gigantesco transatlântico deixava, um dia, o porto de partida, e, como todos os navios que partem, era escoltado por uma nuvem de gaivotas prateadas.
Ao fim de meia hora de viagem, o tempo tornou-se ameaçador. Um vento violento levantava ondas de espuma. Esboçava-se no céu uma tempestade tremenda. Ora, ainda que lutando com toda a força de suas máquinas contra os elementos desencadeados, o possante navio avançava, penosamente, entre as vagas agitadas.
“Pobres avezinhas” dizia um viajante que olhava do tombadilho as gaivotas e as lastimava. “As nossas máquinas, que representam milhares de cavalos-vapor, com dificuldade resistem à tempestade. Como podem vocês, com as suas débeis asas, lutar contra o tufão, desamparadas no céu?”
E, de repente, aquele homem que tão compadecido se mostrava pelas avezinhas do mar, ficou atônito. É que as pequeninas gaivotas, estendendo as asas que o Criador do Universo lhes deu, abandonaram o navio na procela e ergueram-se acima da tempestade: passaram a voar numa região serena do céu.
Enquanto isso, o homem, com sua presunçosa ciência lutava, penosamente, para resistir à fúria dos elementos.
Repara bem, meu amigo. Esse navio é o homem que pretende lutar unicamente com meios próprios. As asas das gaivotas são as mãos débeis de quem ora.
Pelas asas poderosas da prece eleva-se o homem acima das tempestades da vida e pode voar placidamente, como as gaivotas ligeiras, numa região que jamais será atingida pelos vendavais das paixões.
(Malba Tahan)

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