sábado, 19 de abril de 2008

O Esmoler da Vila


Naquela comunidade de franciscanos, frei Teófilo era o responsável pela sopa dos pobres. Todos os dias, de manhã, ia recolher verduras e legumes na horta, trazia ossos do açougueiro da vila (para aproveitar o tutano) e depois preparava uma substanciosa sopa num grande caldeirão de ferro. Enquanto a sopa cozia, aproveitava para fazer um exercício devocional individual.
Muitos anos continuou ele nesse serviço e devoção. Um dia, embora de olhos fechados em prece, percebeu uma luminosidade incomum no ambiente. Abriu os olhos e viu, rodeada por intensa luz, a figura viva do Cristo à sua frente! Instintivamente Teófilo se prostrou. Seu coração batia descompassadamente, ameaçando romper-se de alegria!
Mas seu arrebatamento foi interrompido: a campainha da porta da rua soou estridentemente. Eram os pobres!
Teófilo titubeou: -“Oh!Deus! Como deixar esta revelação pela qual aspirei e esperei a vida inteira? E que direito têm os pobres de interromper este êxtase sublime?”
Ergueu implorativo olhar, mas o Mestre apenas o observava atentamente. A campainha tocou outra vez. Movido pelo dever, o frade suspirou, inclinou-se ante o Cristo e correu à cozinha. Tomou o caldeirão e a concha e dirigiu-se à porta. Os pobres já estavam nervosos. Teófilo os serviu pacientemente, mas ainda estava ansioso e emocionado.
Quando terminou sua tarefa, tornou à cozinha, deixou ali os apetrechos e olhou esperançosamente para seu quarto: ainda estava esplendidamente iluminado! Entrou: Cristo o esperava! Comovido e jubiloso se ajoelhou e o Mestre lhe disse:
- Teófilo: se tivesses ficado, eu me teria ido...
(Lavdam Derlem)

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