sábado, 19 de abril de 2008

A cura através do perdão


Pesquisas e estudos vêm sendo realizadas nesses últimos tempos no intuito de comprovar o poder e proveitos que surgem com a prática do perdão.

Na Clínica Mayo, nos Estados Unidos, uma das mais famosas do mundo, os neurologistas instruem seus pacientes que o ressentimento e a mágoa intoxicam, causando doenças e a morte de inúmeras pessoas e que o perdão restaura, balsamiza e promove a saúde e uma vida longa e harmoniosa. Inclusive a medicina psicossomática aconselha o perdão como um excelente medicamento para a mente, atuando no alívio e prevenção do estresse e tensão do dia-a-dia.

O perdão é uma característica das pessoas generosas, que se colocam acima de qualquer ofensa. Aquele que já aprendeu a perdoar é tranqüilo, repleto de brandura, sentindo-se feliz na prática da solidariedade, do amor ao próximo e a si mesmo.

Uma equipe liderada por Charlotte Van Oyen Witvliet, professora de psicologia do Hope College, em Michigan-EUA realizou um estudo que contou com a participação de 71 voluntários. Nele, foi solicitado a eles que recordassem de alguma ofensa grave ou um grande prejuízo que alguém lhes tivesse causado no passado. Neste momento, foi comprovado um aumento da pressão sanguínea, da tensão muscular e dos batimentos cardíacos, que são os mesmos sintomas presentes quando alguém sente ódio ou uma grande irritação.

E a partir do momento em que foi pedido a estes voluntários que se vissem perdoando e se reconciliando com aqueles que lhes tinham prejudicado, eles se tornaram mais tranqüilos, com batimentos e pressão mais baixos. Outro grande estudioso deste assunto é o Dr. Fred Luskin, autor de O Poder do Perdão e doutor em aconselhamento clínico e psicologia da saúde pela Universidade de Stanford.

Depois de ter sido muito magoado por um grande amigo seu, Luskin conseguiu, sozinho, encontrar uma maneira de lhe perdoar, e decidiu pesquisar se o seu método seria útil a outras pessoas em casos parecidos ou ainda mais difíceis que aquele que tinha vivenciado. A partir daí, deram-se início os seus estudos.

No ano de 1999, ele deu início ao Projeto da Universidade de Stanford para o Perdão, tendo reunido em sua pesquisa dissertativa uma técnica psicoterapêutica, tendo como foco a emotividade racional, com observações sobre o prejuízo causado por sentimentos negativos como o ódio, o ressentimento e a mágoa no aparelho cardíaco.

Seus métodos foram desenvolvidos em várias pesquisas, sendo uma delas com dois grupos de pessoas que foram prejudicadas pelos confrontos entre grupos religiosos na Irlanda: um grupo de mulheres e homens que sofriam com o falecimento de algum de seus familiares; e outro grupo de mães que tiveram seus filhos assassinados. Na realização deste projeto, Luskin teve como colaboradores o PhD em Psicologia, Carl Thoresen, e uma militante irlandesa que há três décadas trabalha pela paz no país em que vive.

Os participantes foram divididos em grupos e supervisionados, passando aproximadamente 42 dias tendo lições sobre técnicas de perdão. Os resultados iniciais demonstraram, de acordo com Thoresen, que os participantes apresentaram diminuição do nível de estresse, viam-se menos revoltados e crendo que, no futuro, eles estariam preparados para perdoarem mais facilmente. Estas pesquisas demonstraram também que o ato de perdoar pode originar uma melhora na saúde física, pois essas pessoas tiveram uma diminuição significativa em sintomas como dores de cabeça, náuseas, falta de sono, perda de apetite, e dores no peito e na coluna.

O perdão atua, então, como uma forma de se encontrar a tranqüilidade e a harmonia, tanto com as outras pessoas quanto consigo próprio, já que a mágoa tem um efeito paralisante na vida das pessoas. E como o perdão nos liberta do sentimento da mágoa, ele nos permite prosseguir em nossa vida tendo a alegria e bem-estar que todos desejamos.

A mágoa e a falta de esperança causam problemas físicos e psicológicos, sendo prejudiciais ao nosso bem-estar. A vida nos apresenta obstáculos contínuos e é necessário conhecer um meio de se superar esses problemas e, dessa forma, conservar a paz e a serenidade. É justamente para isso que há o perdão.

A redução e eliminação de emoções prejudiciais, como o ressentimento, surge com a prática do perdão. Perdoar é um exercício que visa nosso reequilíbrio interior. Pode acontecer de se perdoar alguém em um dia e o ressentimento voltar depois de algum tempo. Mas é por isso que perdoar é um processo a ser praticado. Se a pessoa continua pensando ou falando com raiva de alguém, é porque o perdão ainda não se realizou por completo.

O ato de perdoar torna menos importante a ofensa recebida, permitindo que se permaneça tranqüilo mesmo tendo sido prejudicado de alguma maneira. A pessoa que exerce o perdão reconhece o erro e o mal, mas ao perdoar ela consegue levar a vida normalmente, sem ficar se afligindo com sentimentos inferiores.

Perdão e justiça, inclusive, podem viver juntos. O ato de perdoar não impede que se tome as medidas cabíveis ao caso que sejam permitidas pela Lei. A diferença é que a pessoa não as faz de uma forma odiosa ou desequilibrada.

O ato de perdoar diminui a aflição e desequilíbrios íntimos que poderiam criar doenças físicas. Desculpar diminui a tensão que surge ao se pensar em algo traumático e desgastante, e que não tem como ser mudado, enfim, o perdão é um ato de cura interior.

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