Discutiam sobre o assunto, ainda em pauta, a maledicência.
Assis era um homem simples, inteligente e ganhava a vida como eletricista, fazendo pequenos reparos em aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos.
Um defeito marcante na personalidade de Assis era o hábito de falar mal das pessoas.
Dirceu que já o conhecia há muito, dizia:
Assis, caro amigo, conheço suas fraquezas, mas acho que deveria se esforçar mais. O conhecimento que você tem do Cristianismo não condiz com a sua conduta.
Mas Dirceu – dizia Assis esfregando as mãos – Não consigo deixar de falar. Se estou com um grupo de amigos e ouço um assunto sobre alguém, logo procuro algo mais forte, que choque mais, só para me sentir o centro das atenções. Já tentei de tudo, mas na hora não me controlo.
Dirceu fica em silêncio por alguns instantes como a buscar uma inspiração para socorrer o amigo. Assis ao vê-lo pensativo, também silencia, aguardando uma resposta.
Assis, você entende de eletricidade – diz o amigo – conhece microfones, chaves elétricas, não é mesmo?
Claro que sim – responde Assis – mas porque essa pergunta agora?
Então, Dirceu responde, sereno: Assis, você vai fazer uma experiência. Imagine, que a partir de hoje, foi instalado em sua cabeça um aparelho eletrônico, um sensor mental. Toda vez que for maldizer alguém, vai ouvir um “clic” lá dentro. Neste momento, a pessoa em questão, vai passar a ouvir tudo que você disser. Como se você tivesse o microfone para falar e a pessoa o alto-falante para ouvir.
Um tanto espantado, Assis aceita e promete ao amigo adotar aquela idéia. Os dois se despedem e vão para suas casas.
O tempo foi passando e depois de um ano de esforços, já se notou sensível mudança no comportamento de Assis.
Certo dia, em um encontro dos dois amigos, Dirceu pergunta como anda sua luta contra a maledicência.
No começo foi difícil – responde Assis – cheguei a ficar com dor de cabeça com tantos “clic´s”. Mas sempre que eu estava pronto para soltar minha língua, como arma que fere, ouvia aqueles barulhinhos. Neste momento imaginava a outra pessoa ouvindo o que eu falava. Hoje os “clic´s” já diminuíram bastante e com isso, sempre penso em algo que me deixa muito feliz.
E o que é? – Pergunta Dirceu.
E Assis responde satisfeito:
Se hoje ainda penso mal de alguém, já não falo. Mas para deixar de pensar... serão precisos muito outros “clic´s”.
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