sábado, 19 de abril de 2008

Sensor Mental


Depois de terminados os trabalhos da noite, no templo religioso em que freqüentavam, seguiam para suas casas os dois amigos, Dirceu e Assis.

Discutiam sobre o assunto, ainda em pauta, a maledicência.

Assis era um homem simples, inteligente e ganhava a vida como eletricista, fazendo pequenos reparos em aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos.

Um defeito marcante na personalidade de Assis era o hábito de falar mal das pessoas.

Dirceu que já o conhecia há muito, dizia:

Assis, caro amigo, conheço suas fraquezas, mas acho que deveria se esforçar mais. O conhecimento que você tem do Cristianismo não condiz com a sua conduta.

Mas Dirceu – dizia Assis esfregando as mãos – Não consigo deixar de falar. Se estou com um grupo de amigos e ouço um assunto sobre alguém, logo procuro algo mais forte, que choque mais, só para me sentir o centro das atenções. Já tentei de tudo, mas na hora não me controlo.

Dirceu fica em silêncio por alguns instantes como a buscar uma inspiração para socorrer o amigo. Assis ao vê-lo pensativo, também silencia, aguardando uma resposta.

Assis, você entende de eletricidade – diz o amigo – conhece microfones, chaves elétricas, não é mesmo?

Claro que sim – responde Assis – mas porque essa pergunta agora?

Então, Dirceu responde, sereno: Assis, você vai fazer uma experiência. Imagine, que a partir de hoje, foi instalado em sua cabeça um aparelho eletrônico, um sensor mental. Toda vez que for maldizer alguém, vai ouvir um “clic” lá dentro. Neste momento, a pessoa em questão, vai passar a ouvir tudo que você disser. Como se você tivesse o microfone para falar e a pessoa o alto-falante para ouvir.

Um tanto espantado, Assis aceita e promete ao amigo adotar aquela idéia. Os dois se despedem e vão para suas casas.

O tempo foi passando e depois de um ano de esforços, já se notou sensível mudança no comportamento de Assis.

Certo dia, em um encontro dos dois amigos, Dirceu pergunta como anda sua luta contra a maledicência.

No começo foi difícil – responde Assis – cheguei a ficar com dor de cabeça com tantos “clic´s”. Mas sempre que eu estava pronto para soltar minha língua, como arma que fere, ouvia aqueles barulhinhos. Neste momento imaginava a outra pessoa ouvindo o que eu falava. Hoje os “clic´s” já diminuíram bastante e com isso, sempre penso em algo que me deixa muito feliz.

E o que é? – Pergunta Dirceu.

E Assis responde satisfeito:

Se hoje ainda penso mal de alguém, já não falo. Mas para deixar de pensar... serão precisos muito outros “clic´s”.

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