sábado, 19 de abril de 2008

A história do faquir


(...) Lembro-me da estória de um faquir que vivia numa pequena cabana. Uma noite, por volta da meia-noite, chovia fortemente e o faquir e sua mulher estavam dormindo. De repente, bateram à porta: alguém procurava abrigo.

O faquir acordou a esposa: “Alguém está lá fora”, disse ele. “Algum viajante, algum amigo desconhecido”.

Você notou a expressão? Ele disse: “amigo desconhecido”. E você não considera amigo nem aqueles a quem conhece. A atitude dele era de amor.

O faquir disse: “Algum amigo desconhecido espera lá fora. Por favor, abra a porta”.

Sua esposa disse: “Não temos quarto. Não temos lugar nem para nós dois. Como podemos receber mais uma pessoa?”.

O faquir respondeu: “Minha querida, este não é o palácio de um homem rico. Não pode tornar-se menor do que é. O palácio de um homem rico parece diminuir quando chega um único hóspede, mas esta é a cabana de um homem pobre”.

A esposa perguntou: “O que essa questão de pobreza ou riqueza tem a ver com isso? O fato é que esta cabana é muito pequena!”

O faquir respondeu: “Se houvesse espaço suficiente em seu coração, sentiria que esta cabana é um palácio, mas se seu coração é estreito, mesmo um palácio parecerá pequeno. Por favor, abra a porta. Como podemos repelir um homem que bateu à nossa porta? Até agora, nós estivemos deitados. Talvez não possamos deitar os três, mas poderemos nos sentar. Haverá lugar para todos se ficarmos sentados”.

A mulher teve que abrir a porta. O homem entrou com as roupas ensopadas. Eles se sentaram e começaram a conversar. Depois de um tempo, chegaram mais duas pessoas e bateram à porta.

O faquir disse: - “Parece que há mais alguém”. E pediu ao hóspede, sentado mais perto da porta, que a abrisse. O homem disse: -“Abrir a porta? Não há espaço”. O homem que havia recebido abrigo na cabana momentos antes esqueceu-se de que não havia sido o amor que o faquir sentia por ele que lhe havia dado o lugar, mas sim o amor que havia na cabana. Agora haviam chegado outras pessoas. E o amor devia acolher os recém-chegados.

Mas o homem disse: -“Não, não é preciso abrir a porta. Não vê a dificuldade que temos agachados aqui?”.

O faquir disse: - “Meu caro, não tive lugar para você? Você foi recebido porque aqui há amor. E ele ainda está aqui, não acabou com a sua entrada. Abra a porta, por favor. Agora estamos sentados longe uns dos outros, nós nos sentaremos mais perto. Além do mais, a noite está fria e nos dará calor e prazer sentarmos bem perto uns dos outros”.

A porta foi aberta e os dois recém-chegados entraram. Todos sentaram-se bem juntos e começaram a se apresentar.

Então, chegou um burro e empurrou a porta com a cabeça. O animal estava molhado, queria abrigar-se da noite. O faquir pediu a um dos homens, que estava sentado quase encostado na porta, que a abrisse. “Um novo amigo chegou”, disse o faquir.

Olhando lá fora, um dos homens disse: “Não é um amigo ou nada parecido com isso. É apenas um asno. Não é preciso abrir”.

O faquir disse: “-Talvez você não saiba que à porta de alguns homens ricos os homens são tratados como animais, mas esta é a cabana de um pobre faquir e estamos acostumados a tratar os animais como seres humanos. Por favor, abra a porta”.

Em uníssono, todos reclamaram. “Mas, e o espaço?”

“Há bastante espaço: Em vez de ficarmos sentados, podemos ficar de pé. Não se aborreçam. Se for necessário, eu sairei e haverá lugar para todos”.

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