sábado, 19 de abril de 2008

Dá de ti mesmo



Declaraste não possuir dinheiro para auxiliar.

Acreditas que um pouco de papel ou um tanto de níquel te substituem o coração?

Esqueces-te, meu filho, de que podes sorrir para o doente e estender a mão ao necessitado?

A flor não traz consigo uma bolsa de ouro e espalha perfume no firmamento.

O Céu não exibe chuvas de moedas, mas enche o mundo de luz.

Quanto pagas pelo ar fresco que, em bafejos amigos, te visita o quarto pela manhã?

O oxigênio cobra-te imposto?

Quanto te custa a ternura materna?

As aves cantam gratuitamente.

A fonte que te oferece o banho reconfortador não exige mensalidade.

A árvore abre-te os braços acolhedores, repletos de flor e fruto, sem pedir vintém.

A benção divina, cada noite, conduz o teu pensamento a bendito repouso no sono e não fazes retribuição de espécie alguma. Habitualmente sonhas, colhendo rosas em formoso jardim, junto de companheiros felizes; no entanto, jamais te lembraste de agradecer aos mensageiros celestiais que te proporcionam venturoso descanso.

A estrela brilha sem pagamento.

O Sol não espera salário.

Por que não aprenderes com a Natureza em torno?

Por que não te fazeres mais alegre, mais comunicativo, mais doce?

Tens a fisionomia seca e ensombrada por faltar-te dinheiro excessivo e reclamas recursos materiais para ser bom, quando a bondade não nasce dos cofres fortes.

Sê irmão de teu irmão, companheiro de teu companheiro, amigo de teu amigo.

Na ciência de amar, resplandece a sabedoria de dar.

Mostra um semblante sereno e otimista, em todos os momentos.

Estende os braços, alarga o coração, comunica-te com o próximo, através dos fios brilhantes da amizade fiel.

Que importa que alguém te não entenda o gesto de amor?

Que seria de nós, meu filho, se a mão do Senhor se recolhesse à distância, por temer-nos a rudeza e a maldade?

Dá de ti mesmo, em toda parte.

Muito acima do dinheiro, pairam as tuas mãos amigas e fraternas.

(Fonte: Revista do Pensamento – abril/68)

Nenhum comentário: