sábado, 19 de abril de 2008

A Lição da Caveira


Um príncipe, orgulhoso de sua realeza, foi certo dia caçar em lugar montanhoso e afastado. A certa altura de seu caminho, viu um velho eremita, sentado diante de sua gruta, e muito atento a considerar uma caveira que tinha nas mãos.

Indignado por não lhe ter o velho dado a menor atenção, nem sequer levantado os olhos para a luzida companhia de caçadores, o príncipe aproximou-se dele, e disse-lhe, entre rude e zombeteiro:

- Levanta-te quando por ti passa o teu senhor! Que podes ver de tão interessante nessa pobre caveira, que chegas a te abstrair da passagem de um príncipe e tantos poderosos fidalgos?

O eremita, erguendo para ele os olhos mansos, respondeu, em voz singularmente clara e sonora:

- Perdoa, senhor. Eu estava procurando descobrir se esta caveira tinha pertencido a um mendigo ou a um príncipe, mas não consigo distinguir de quem seja. Nestes ossos nada há que me diga se a carne que os revestiu repousou em travesseiros de plumas ou nas pedras das estradas. Eu não saberia dizer se devia levantar-me ou conservar-me sentado diante daquele que em vida foi o dono deste crânio anônimo.

O príncipe, cabeça baixa, prosseguiu o seu caminho, mas a caçada não teve, naquele dia, qualquer encanto para ele. A lição da caveira abatera-lhe o orgulho.

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