sábado, 19 de abril de 2008

MIRAGENS

Eram encargos normais, saudáveis: cuidar dos filhos, dirigir o lar, instruir a doméstica, efetuar compras... Mas Zilda aborrecia-se. Sentia-se frustrada. Ninguém parecia reconhecer seu esforço... Além do mais, sonhava trabalhar fora, ter seu próprio dinheiro, freqüentar uma Faculdade, alargar horizontes...
Irritava-se com frases pomposas, tipo "rainha do lar" ou "doadora da Vida'', que lhe pareciam engodos masculinos para estimular a submissão das mulheres.
Resolveu consultar um psicólogo, desses bem modernos, idéias arejadas, ''pra frente''... Expôs-lhe suas dúvidas e anseios, suas angústias e mágoas...
- Minha cara Zilda - disse-lhe o profissional, após ouvi-la. - Seu problema fundamental é um só: aprender a gostar um pouco de si mesma! É preciso soltar-se... Conquiste seu espaço no Mundo! Realize-se!
- O senhor tem razão! Anseio por vôos mais altos, além da rotina... No entanto, estou amarrada, os encargos domésticos são numerosos, a família precisa de mim, alguém deve ficar na retaguarda...
- Esqueça. No momento é preciso cuidar de seu bem-estar. Em sua existência ninguém deve ser mais importante do que você mesma! Liberte-se! Seja autêntica! Exercite suas próprias asas...
E, sob orientação do psicólogo, Zilda começou a mudar. Encontrou tempo para a massagista, o tratamento de beleza, a ginástica. Importante afinar a silhueta, rejuvenescer... Em breve matriculou-se em curso de nível superior, conseguiu pequeno emprego, entrosou-se com novas amigas, igualmente "avançadas"...
Sem tempo para o lar, este começou a apresentar problemas, o desleixo tomou conta, os filhos foram descuidados. O marido, perplexo, indagava-lhe o porquê de tantas mudanças...
- É preciso cuidar de mim mesma. Tenho sido uma escrava. Chegou o tempo de minha libertação. Vocês "se virem..."
Empolgada pela própria audácia, Zilda distanciou-se progressivamente da família até que, concluindo que precisava de mais espaço, partiu para cidade distante, integrada em novo emprego. Aparecia apenas nos fins de semana, visita em sua própria casa, "era preciso cuidar de si mesma!... "
Todavia, não chegou a parte alguma, alienada das realidades mais simples, perdida em caminhos tortuosos. Embora livre para movimentar-se, jamais se libertou da angústia e da insatisfação, nem da impertinente sensação de que talvez fosse mais feliz como simples "rainha do lar"!...
No dicionário da Vida, felicidade é sinônimo de doação. Por mais sofisticadas e brilhantes sejam as idéias, não resolveremos o problema de nossa estabilidade íntima, nem nos realizaremos como Filho de Deus, enquanto pensarmos muito em nós mesmos. Quem se fecha em si, sufoca-se em estreitos limites, ainda que se julgue na amplidão.
Os movimentos feministas são respeitáveis quando reivindicam os direitos da mulher como ser humano, com aspirações inerentes à sua condição. Cometem, entretanto, grave engano quando, pretextando sua libertação, a induzem a aborrecer-se com os encargos domésticos, negligenciando as sagradas tarefas da maternidade, em que a mais nobre, a mais sublime de todas as missões lhe é confiada: preparar os filhos para a Vida, tarefa que lhe confere o supremo encargo de colaboradora de Deus.

(Richard Simonetti - Transcrito "Correio Fraterno do ABC")

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