sábado, 19 de abril de 2008

Diário de uma criança que não nasceu


Na Áustria vem despertando grande interesse o livro que traz um título muito significativo: “Diário de uma criança que não nasceu”. (M. Shwark). Alguns fragmentos dão idéia da dramaticidade da obra.
5 de outubro: hoje teve início minha vida. Papai e mamãe não sabem. Eu sou menor do que a cabeça de um alfinete; sou um ser independente. Todas as minhas características físicas e psíquicas estão já determinadas. Por exemplo: terei os olhos de papai, os cabelos ondulados e castanhos de minha mamãe. E isto, também, é certo: eu sou uma menina.
10 de outubro: hoje começa a abertura da minha boca; dentro de um ano poderei sorrir, quando meus pais se inclinarem sobre o meu berço. A minha primeira palavra será mamãe.
Seria verdadeiramente ridículo afirmar que eu não sou um ser humano na minha essência, mas, somente uma parte de minha mãe.
25 de outubro: hoje meu coração começou a bater. Ele continuará a sua função sem, jamais, parar; sem descansar, até o fim da vida. De fato, é isso um grande milagre!
2 de novembro: os meus braços e as minhas mãos começaram a crescer, e continuarão a crescer até ficarem perfeitos e fortes para o trabalho; isso requererá algum tempo, mesmo depois do meu nascimento.
12 de novembro: agora, nas minhas mãos, estão despontando as unhas, com minhas mãos apoderar-me-ei do mundo e participarei das atividades das outras pessoas.
20 de novembro: hoje, pela primeira vez, minha mãe percebeu, pelo seu coração, que me traz em seu seio. Quem sabe, sua grande alegria!
28 de novembro: todos os meus órgãos estão completamente formados. Eu estou muito grande!
11 de dezembro: logo mais poderei ver. Porém, os meus olhos estão, ainda, costurados com um fio. Luz, cor, flores... como deve ser magnífico! Sobretudo enche-me de alegria, o pensamento de que deverei ver minha querida mamãe...
12 de dezembro: crescem-me os cabelos e as sobrancelhas. Oh como ficará contente minha mãe com sua filhinha!
24 de dezembro: o meu coração está pronto. Deve haver crianças que nascem com o coração defeituoso. Neste caso, precisam sujeitar-se a delicadas intervenções cirúrgicas para corrigir estes problemas. Graças a Deus, o meu coração não tem anomalia alguma e eu serei uma menina cheia de vida e de força. Todos ficarão contentes e alegres com meu nascimento.
28 de dezembro: hoje, minha mãe me assassinou!

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