O Doutor Leonel de Souza
Dono de terra e dinheiro,
Trazia a cabeça em fogo,
Hora a hora, dia inteiro.
Tinha uma filha somente,
A jovem Ana Maria,
Que lhe dera ao coração
A presença da alegria.
Ela, porém, namorava
O jovem Joaquim Mutamba,
Sempre juntos, noite a noite,
Lembravam corda e caçamba.
Sabendo que os dois se amavam
Com manifesta loucura,
O pai ficou alarmado
E disse à filha, insegura:
- “Ana Maria, você
Não mais procure Joaquim,
Considere o seu romance
Um caso que chega ao fim.
Largue, filha, enquanto é tempo,
Esse Joaquim do pé torto,
Um varredor de cinema
Não tem onde cair morto...”
A filha pediu, no entanto:
- “Pai, rogo à sua bondade,
Quero casar com Joaquim,
Já temos intimidade!...”
O velho esmurrou a mesa,
Dando mostra de machão,
E asseverou, irritado:
- “Não aceito, não e não!...”
O pai buscou, no outro dia,
Um famoso pistoleiro...
Queria um tiro no moço,
Pagaria bom dinheiro.
O pistoleiro, maldoso,
Que era pobre, muito pobre,
Comunicou ao cliente:
- “Sinto fome do seu cobre...”
Semana passa semana,
E o pistoleiro com jeito,
Derrubou Joaquim, a tiros,
Num crime duro e perfeito.
Ninguém viu a cena triste...
No povo, apenas mumunhas.
Buscou a polícia, em vão,
Informes e testemunhas.
Ana Maria chorou
Por muitos e muitos dias,
Parecia torturada
Por íntimas agonias...
O pai cercou-a de mimos,
Sentindo arrependimento
E a moça continuava
Toda entregue ao sofrimento...
Notei com grande surpresa
Que ela trazia de lado,
Em todo passo do dia,
Mutamba desencarnado.
Quatro anos se passaram...
Veio o estouro de repente;
A jovem Ana Maria
Teve um novo pretendente.
Era um rapaz educado,
Um competente engenheiro...
O pai fez o casamento
Gastando muito dinheiro.
Morrer não fora vantagem,
De coração renovado,
A moça trouxera à luz
O primeiro namorado.
Decorridos onze meses
Surgiu a reviravolta...
Um pequenino nasceu...
Era Mutamba, de volta.
Tudo era festa em família,
Felicidade, alegria...
O genro e o sogro, contentes,
Beijavam Ana Maria.
O pequenino ante o seio
Sugava o leite com gana
E eu ficava refletindo
Nas tricas da vida humana.
O avô, vendo o neto ativo
Parecendo esfomeado,
Exclamava, todo dia:
- “Eta, menino danado!...”
Xavier, Francisco Cândido. Da obra: “Agência De Notícias” Ditada pelo Espírito Jair Presente
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