segunda-feira, 29 de março de 2010

Carmelino

Uma história curiosa,

Encerrando muito ensino,

É a que vi acontecendo

Ao nosso irmão Carmelino.


Era ele um servidor

Que conquistou nosso apreço,

Viera no Grande Espaço

De um mundo que não conheço.


Passeava pela Terra,

Vendo as árvores copadas,

Adorava o sol no verde

Dos campos e das estradas.


Parava junto das flores,

Ficando feliz ao vê-las,

Dizia que todas elas

Eram irmãs das estrelas.


Supondo o mundo perfeito,

Solicitou ao seu Guia:

Queria viver na Terra,

Respirar um novo dia...


O amigo escutou com calma

E disse a ele: “primeiro,

Procure ficar uns dias

Em casa de um companheiro.


Uma semana somente

Com família de seu nível...

Depois, veremos sem pressa

Aquilo que for possível”...


Carmelino se instalou,

Em corpo espiritual,

No lar generoso e amigo

Do irmão José Juvenal.


Juvenal era casado,

Mulher, dois filhos e emprego,

Morava em cidade grande,

Mas vivia sem sossego.


Atencioso e distinto,

Servia num armazém,

Por residir no subúrbio,

Cedinho, tomava o trem.


A esposa ficava em casa,

Dando assistência aos meninos,

Que se espancavam com fúria,

Em gritos e desatinos.


Mas era grande o pampeiro

E a mulher a lastimar-se,

Hora a hora, dia inteiro...

Juvenal voltava à casa,


Muito além do anoitecer,

Depois de uma sopa leve,

Tinha contas a rever.

Sentava-se, acabrunhado,


A força se lhe esbatia,

Sentia-se fatigado

Das contas de todo dia.


Eram contas de armazém,

Concertos de geladeira,

Exigências da farmácia,

Cobranças da costureira.


Eram contas do colégio,

Pedidos do entregador,

Listas das compras de casa

E preços do encanador.


Folheava novas contas,

Detalhes da prestação

Do aparelho que comprara

Com nova televisão.


Eram contas do padeiro

E notas da leiteria,

Todas mostravam aumento,

Subindo, dia por dia.


Finda a semana de estudo,

Carmelino veio a nós,

Parecia birutado,

De olhar distante e sem voz.


Veio o Guia recebê-lo,

Dizendo-lhe: Carmelino,

Você viverá na Terra,

Ganhará novo destino...


Está você satisfeito?

Seu novo berço estou vendo”...

Mas Carmelino, em silêncio,
Chorou e fugiu correndo...


Xavier, Francisco Cândido. Da obra: “Agência De Notícias”. Ditado pelo Espírito Jair Presente.

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