segunda-feira, 29 de março de 2010

Tarefa Frustada

Fora ele um grande herói

Na abastança de outros dias...

Agora, doente e velho,

Agonizava Matias.


Gemia, desamparado,

Quem tanto estendera o bem...

Febril, tinha sede e frio

Mas não surgia ninguém.


Orara e dizia, humilde:

- “Jesus é o refúgio meu!...”

E quem devia ampará-lo

Naquela hora era eu...


Abnegados mentores

Que lhe escutaram a prece,

Enviaram-me a servi-lo

Em tudo quanto eu pudesse.


Caia a noite. Cheguei

Ao pequeno pardieiro,

No intuito de auxiliar

Ao querido companheiro.


Depois de assustado, ao vê-lo

Exposto na tábua nua,

Dispus-me a buscar-lhe amparo,

Mesmo fosse, rua em rua...


Pedi, em prece, aos amigos

De minha pobre existência

Que me fizessem andar

Em minha antiga aparência;


Passados breves instantes,

Entrei na licença rara:

Achava-me, tal qual eu fora:

- Corpo igual ao que deixara.


Tentando obter apoio

Que reanimasse o velhinho,

Memorizando endereços,

Fui à casa de Antoninho.


Tinha nele um grande amigo,

Falei do velho doente,

Ele gritou, espantado:

- “Você é o Jair Presente?


Embora você me lembre

Um cara amigo já morto,

Não tenho qualquer auxílio

Para os pobres sem conforto...”


Corri procurando o Sérgio,

Ele exprimiu-se, zombando:

“Se eu pudesse dar esmolas

Não vivia trabalhando...”


Saí, apressadamente,

Para a casa do Dirceu,

Ele, porém, me falou:

- “Auxílio? Primeiro eu...”


Modificando o roteiro

Procurei por Dona Clara,

Ela me disse: “Não tenho!...

A vida está muito cara...”


Tudo em vão... Sempre pedindo,

Fui a vinte moradias...

Não encontrei um vintém

Para socorro ao Matias.


Regressei, desiludido,

Ao pardieiro isolado,

Para ver como estaria

Passando o pobre coitado...


Cheguei chamando o doente...

Tudo silêncio e vazio...

Matias, naquele instante,
Morrera aos golpes do frio.


Xavier, Francisco Cândido. Da obra: “Agência De Notícias”. Ditado pelo Espírito Jair Presente.

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