Fora ele um grande herói
Na abastança de outros dias...
Agora, doente e velho,
Agonizava Matias.
Gemia, desamparado,
Quem tanto estendera o bem...
Febril, tinha sede e frio
Mas não surgia ninguém.
Orara e dizia, humilde:
- “Jesus é o refúgio meu!...”
E quem devia ampará-lo
Naquela hora era eu...
Abnegados mentores
Que lhe escutaram a prece,
Enviaram-me a servi-lo
Em tudo quanto eu pudesse.
Caia a noite. Cheguei
Ao pequeno pardieiro,
No intuito de auxiliar
Ao querido companheiro.
Depois de assustado, ao vê-lo
Exposto na tábua nua,
Dispus-me a buscar-lhe amparo,
Mesmo fosse, rua em rua...
Pedi, em prece, aos amigos
De minha pobre existência
Que me fizessem andar
Em minha antiga aparência;
Passados breves instantes,
Entrei na licença rara:
Achava-me, tal qual eu fora:
- Corpo igual ao que deixara.
Tentando obter apoio
Que reanimasse o velhinho,
Memorizando endereços,
Fui à casa de Antoninho.
Tinha nele um grande amigo,
Falei do velho doente,
Ele gritou, espantado:
- “Você é o Jair Presente?
Embora você me lembre
Um cara amigo já morto,
Não tenho qualquer auxílio
Para os pobres sem conforto...”
Corri procurando o Sérgio,
Ele exprimiu-se, zombando:
“Se eu pudesse dar esmolas
Não vivia trabalhando...”
Saí, apressadamente,
Para a casa do Dirceu,
Ele, porém, me falou:
- “Auxílio? Primeiro eu...”
Modificando o roteiro
Procurei por Dona Clara,
Ela me disse: “Não tenho!...
A vida está muito cara...”
Tudo em vão... Sempre pedindo,
Fui a vinte moradias...
Não encontrei um vintém
Para socorro ao Matias.
Regressei, desiludido,
Ao pardieiro isolado,
Para ver como estaria
Passando o pobre coitado...
Cheguei chamando o doente...
Tudo silêncio e vazio...
Matias, naquele instante,
Morrera aos golpes do frio.
Xavier, Francisco Cândido. Da obra: “Agência De Notícias”. Ditado pelo Espírito Jair Presente.
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