segunda-feira, 29 de março de 2010

Caso de Vitorino

Disse o Guia:”Vitorino,

A mais importante norma

De sublimar a existência

É a nossa própria reforma.


Não se descuide. Inda agora,

Ouça o aviso do Além,

Ninguém consegue elevar-se

Sem renovar-se no Bem.”


Respondeu o interpelado,

Humilde, baixando o olhar:

- “Repito-vos, caro Guia,

Eu prometo melhorar.”


Muito embora, Vitorino

Fosse ao grupo de oração,

Fora do grupo, era ele

A própria contradição.


Negociando ouro e jóias,

Bebia sempre onde ia.

Transtornado, de repente,

Insultava e discutia.


Mantinha a esposa e dois filhos,

No entanto, chegando em casa,

Era um ébrio renitente,

Mostrando os olhos em brasa...


Espancava a companheira

Pobre louco em desatinos,

Em seguida ao quebra-quebra,

Espancava os dois meninos.


Ameaçava os parentes,

Rixava por frase à toa,

Chegando a noite das preces

Parecia outra pessoa.


No grupo, o guia amoroso,

Continuava a falar,

Vitorino respondia:

- “Eu prometo melhora.”


No outro dia, a mesma nota,

Era a pessoa insegura,

Bebia constantemente,

Quase atingindo a loucura.


Vitorino possuía

Outra casa e outra mulher,

Gritando para os vizinhos:

“Tenho a vida que eu quiser...”


Essa infeliz criatura,

Se o bebum aparecia,

Também sofria, humilhada,

Injúria e pancadaria.


A essa mulher Segunda-feira

Ele chamava de “estepe”,

Era uma jovem doente,

Magrinha que nem ganzepe.


Chegando a noite das preces,

Eis o Guia a aconselhar,

Ele, porém, só dizia:

- “Eu prometo melhorar.”


Mas os anos transcorreram,

Aos tragos, sem intervalo,

Assustado, certa noite,

Viu a morte a procurá-lo.


Todo encolhido no leito,

Sofria grande aflição,

Terríveis e fortes dores

Em torno do coração.


Ele pediu: “Morte amiga,

Deixe-me, quero sarar,

Se tenho errado no mundo

Eu prometo melhorar...”


Disse a Morte: “Não se queixe,

Entenda, prezado amigo,

Não me venha com promessas

Seu caso agora é comigo!...


Você teve muitas chances,

Muito dinheiro e conforto,

Você continua vivo

Mas o seu tempo está morto!...”


Vitorino estarrecido,

Notou a morte ao seu lado,

Depois em breves momentos

Estava desencarnado.


No outro dia, grande enterro,

Descia por flórea rampa

E duas mulheres tristes

Chorando na mesma campa.


Xavier, Francisco Cândido. Da obra: “Agência De Notícias”. Ditado pelo Espírito Jair Presente.

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