Não te creias a sós, embrulhando os sonhos que acalentavas nos pesados tecidos da revolta.
Há tantos solitários que não se resolvem a arrebentar as amarras do egoísmo para serem úteis a alguém!...
Sê tu quem consiga esse fanal.
O lago plácido e sonhador, que reflete o céu de astros pulverizado qual espelho precioso, desfaz-se ante o batráquio que nele se arremessa, apagando a ilusão da beleza.
Desejarias felicidade contemplativa cercado de carinhos, inútil, refletindo sonhos impossíveis.
No entanto, enquanto te crês solitário e triste, frustrado nos anseios que acalentavas, perdes os olhos nas tintas carregadas do pessimismo e não vês aqueles olhos que te fitam inquietos, desejando acercar-se de ti, sem oportunidade de fazê-lo.
A semente, que se sente desventurada numa arca de mogno e bronze valiosos, desdobra-se em bênçãos para muitos quando acolhida pelo solo que lhe oferece destino.
A água morta entre sombras alimenta a vida, se vai depurada.
O monstro desprezível enriquece-se de perfume quando agasalha os bulbos do lírio.
O coração ao teu lado, na vida diária, é a sublime meta da tua oportunidade no corpo.
Mata a solidão, asfixiando-a nos tecidos leves da cordialidade para com os outros.
Não creias que haja um abismo entre ti e os outros.
Se o vês ou o sentes, lança a ponte da afabilidade e atapeta-a da doçura. Escorregarão muitos seres imersos no personalismo atormentado das vacuidades da Terra, que se aconchegarão ao país da tua alma, sedentos, necessitados e amigos teus, dando carinho também.
Compreenderás que o receber é efeito do dar, tanto quanto o colher é o resultado do plantar.
A lagarta que teme a metamorfose jamais plainará como borboleta leve, no azul do ar.
A flor que receia o desgaste nunca atingirá a semente que a perpetua.
O amor que se enclausura não amadurecerá em dádivas renovadoras.
Aparecendo à pecadora de Magdala, após a Ressurreição, o Mestre premiou o esforço de quem tanto deu à causa da Mensagem Viva da Fé, a ponte de vencendo-se a si mesma, oferecer-se entre tormentos íntimos de paixões sem nome que sublimou, para renascer dos escombros qual Circe de Luz... E Maria o mereceu, pois que, esquecida do próprio eu, cindiu a casca da autopiedade e da falsa solidão a que muitos a si se impõe, para atirar-se à glória do serviço ao próximo sem fronteira nem limite por amor a Ele.
Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Dimensões da Verdade. Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
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