segunda-feira, 29 de março de 2010

Alcoólatras

QUADRO PUNGENTE

Alcoólatra vampiro alça a boca debalde,
Ébrio desencarnado, a hedionda sede aguça.
Híspidos lábios lambe e escancara a dentuça,
Tateia o vidro, em vão, do frasco verde e jalde.

Rápido, caça alguém no remoto arrabalde,
Alcoólatra encarnado encontra e lhe refuça
A goela que se inflama, enrubesce e empapuça,
Como a sacar de si mais sede que a rescalde.

Agarra-se o vampiro ao bêbado por entre
As vértebras do peito e as vísceras do ventre,
Toma-lhe o braço e o corpo... Estala a língua bronca!
A dupla bebe, bebe... E, às tontas, na calçada
Cai de borco no chão, estira-se largada,
Delira, geme, dorme, espolinha-se e ronca...


Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Poetas Redivivos. Ditado pelo Espírito Honório Armond.

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