quinta-feira, 25 de março de 2010

Perto de Deus

ENTRE a alma, prestes a reencarnar na Terra, e o mensageiro Divino travou-se expressivo diálogo:

—Anjo bom—disse ela—, já fiz numerosas romagens no mundo. Cansei-me de prazeres envenenados e posses inúteis... Se posso pedir algo, desejaria agora colocar-me em serviço, perto de Deus, embora deva achar-me entre os homens.

—Sabes efetivamente a que aspiras? Que responsabilidade procuras?—replicou o interpelado. —Quando falham aqueles que servem à vida, perto de Deus, a obra da vida, em torno deles, é perturbada nos mais íntimos mecanismos.

—Por misericórdia, anjo amigo! Dar-me-ás Instruções. . .

—Conseguirás aceitá-las?

—Assim espero, com o amparo do Senhor.

— O Céu, então, conceder-te-á o que solicitas.

—Posso informar-me quanto ao trabalho que me aguarda?

—Porque estarás mais perto de Deus, conquanto entre os homens, recolherás dos homens o tratamento que eles habitualmente dão a Deus...

— Como assim?

—Amarás com todas as fibras de teu espírito, mas ninguém conhecerá, nem te avaliará as reservas de ternura!... Viverás abençoando e servindo, qual se carregasses no próprio peito a suprema felicidade e o desespero supremo. Nunca te fartaras de dar e os que te cercarem jamais se fartarão de exigir...

— Que mais?

—Dar-te-ão no mundo um nome bendito, como se faz com o Pai celestial; contudo, qual se faz Igualmente até hoje na Terra com o Todo-Misericordioso, reclamar-se-á tudo de ti, sem que se te de coisa alguma Embora detendo o direito de fulgir a luz do primeiro lugar nas assembléias humanas, estarás na sombra do ultimo. . .

Nutrirás as criaturas queridas com a essência do próprio sangue; no entanto, serás apartada geralmente de todas elas, como se o mundo esmerasse em te apunhalar o coração.

Muitas vezes, serás obrigada a sorrir, engolindo as próprias lágrimas, e conhecerás a verdade com a obrigação de respeitar a mentira... Conquanto venhas a residir no regozijo oculto da vizinhança de Deus, respirarás no fogo invisível do sofrimento! . . .

—Que mais?

— Adornarás as outras criaturas para que brilhem nos salões da beleza ou nos torneios da inteligência; entretanto, raras te guardarão na memória, quando erguidas ao fausto do poder ou ao delírio da fama! Produzirás o encanto da paz; todavia, quando os homens se inclinem à guerra, serás impotente para afastar-lhes o impulso homicida...

— Por isso mesmo, debalde chorarás quando se decidirem ao extermínio uns dos outros, de vez que te acharás perto do Todo Sábio e, por enquanto, o Todo-Sábio é o grande Anônimo, entre os povos da Terra.

—Que mais?

Todas as profissões no Planeta são honorificadas com salários correspondentes às tarefas executadas, mas o teu oficio, porque estejas em mais Intima associação com o Eterno e para que não comprometas a Obra da Divina Providencia, não terá compensações amoedadas.

Outros seareiros da Vinha Terrestre serão beneficiados com a determinação de horários especiais; contudo, já que o Supremo Pai serve dia e noite, não disporás de ocasiões para descanso certo, porquanto o amor te colocara, em permanente vigília!...

Não medirás sacrifícios para auxiliar, com absoluto esquecimento de ti; no entanto, verás teu carinho e abnegação apelidados, quase sempre, por fanatismo e loucura...

Zelarás pelos outros, mas os outros muito dificilmente se lembrarão de zelar por ti...

Farás o pão dos entes amados... Na maioria das circunstancias, porém serás a última pessoa a servir-se dos restos da mesa e, quando o repouso felicite aqueles que te consumirem as horas, velarás, noite a dentro, sozinha e esquecida, entre a prece e a aflição... Espiritualmente, viverás mais perto de Deus, e, em razão disso, terás por dever agir com o ilimitado amor com que Deus ama...

— Anjo bom —disse a Alma, em prato de emoção e esperança—que missão será essa?

O Emissário Divino endereçou-lhe profundo olhar e respondeu num gesto de bênção:

—Serás mãe!...



Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Mãe Antologia Mediúnica. Ditado pelo espírito Irmão X

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