quinta-feira, 25 de março de 2010

Mãe Querida

Torno a ver, nos meus dias de criança,

O teu regaço, a lamparina acesa,

O pequeno lençol que trago na lembrança,

A oração da manhã e o pão à mesa...

Varro o chão, a fitar-te as mãos escravas,

Afagando o fogão, de momento a momento...

A roupa e o batedouro em que cantavas

Para esquecer o próprio sofrimento...

Depois, era o tinir da caçarola,

Aumentando a despesa no armazém...

Vestias-me de renda para a escola

E nunca me lembrei de ofertar-te um vintém.

Cresci... A mocidade me requesta,

Ante a cidade de qualquer maneira...

Parti... – eu era a rosa para a festa,

Ficaste... – eras a rústica roseira.

De tudo vi na estrada grande e nova,

As flores do prazer, o brilho, a fama,

A malícia dourada e os suplícios da prova

Marcando a pranto e fel os passos de quem ama...

Hoje, volta a buscar-te, mãe querida,

Dá-me de tua paz sem ilusão,

Guarda-me em ti, amor de minha vida,

Alma querida de meu coração.


Xavier, Francisco Cândido. Ditado por Maria Dolores.

Nenhum comentário: